Ele preferia abster-se de ver
a fuga e o medo nela. A culpa. Preferia se cegar a admitir estar errado.
Preferia regredir. Preferia ficar sem o que queria. Parecia mais fácil, e ele
sabia. Ele errava mais sozinho do que todos nós juntos. Fingia. Olha só esse
sorriso, essa alegria, que vazia! Quem pode cobrir isso? Pois qualquer que
fosse a dor, ela ainda existia. Qualquer que fosse a cor dos olhos, se esvaía.
Ele não era de fugir, mas não sabia enfrentar. Era de sentar no meio da
estrada, e os carros que desviassem. A ela, que sempre o empurrava para a frente
de batalha sem qualquer tipo de munição, não interessava fazê-lo tentar
qualquer coisa agora. E é essa a definição de egoísmo: Mantenha-o aqui, mesmo que infeliz.
– – –
Ele passava por ali todos os
dias. Vivia ali. Passavam-se os dias. Fechava os olhos para não ver, corria
risco de vida. Alguns carros não desviam. Ele podia contar cada segundo de seu
dia recém-começado sem nunca vivê-los. Mas viveria. Anestesiava-se com o novo
capítulo do mundo – que ele já conhecia. Fingia. Dizia palavras sem pensar se
elas significavam alguma coisa ou se faziam algum sentido. Sorrisos nem mais
podiam ser fingidos. Não existiam. Achava que sofria tão bem sozinho que
ninguém os notariam, os pensamentos, que ele chorava a cada olhar e gritava a
cada palavra. Berrante. Gritante, cada incerteza que ele achava guardar só pra
ele. Quanta gente vendo... e vivendo, do outro lado da rua, a lua, pontualmente
nos esperando às quatro da tarde.
Mas nunca chegamos.
- 2009
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