Pouca era a elegância, quase
inexistente. Sem refinamento, sem palavras bonitas ou escrita correta. A
escrita é que era difícil. Difícil de entender tanto quanto ele mesmo. O
mistério era de longe não proposital, excêntrico e espontâneo. Ele não se
mostrava porque não sabia.
Eram sempre os mesmos interesses, velhos e
desgastados pelo tempo. Não o tempo dele mesmo – isso ele tinha de sobra – mas
o que construía todo dia o novo capítulo do mundo. Não se muda o que já foi, mas
se pode achar novos registros que contariam a verdade do que não se muda mais.
Disso eu sei bem, mas não sei sobre o mundo. Sei sobre mim e sobre as pessoas
que por aqui passam. Eu sei de cada sentimento, uma ciência tão inexata quanto
ele. Ele não parece sentir, eu observava, não parecia viver. Ele guardava tudo
dentro da caixa preta que existia no lugar de seu coração – os registros que
podiam mudar tudo o que ele aparentava sentir por mim: nada. E recolhia cada
memória do chão com sua mão esquerda.
- 2009
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