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sábado, 29 de setembro de 2012

Sketch #1

Eu não estaria pronta para me render a uma vida que não me pertencia mais uma vez. Haviam me dito – eu me disse – para seguir a arte. Mas aquela era a minha visão de arte. Não conhecia nada que me pudesse tentar mais, que me envolvesse com mais diversão, carinho e falsidade. De tudo que eu conhecia, já havia provado e enjoado. Não havia mais nada, mas olho para os lados uma última vez antes de desistir. Eis que surge a mais pura arte. Lá, ela. Ou melhor, ele.


Pouca era a elegância, quase inexistente. Sem refinamento, sem palavras bonitas ou escrita correta. A escrita é que era difícil. Difícil de entender tanto quanto ele mesmo. O mistério era de longe não proposital, excêntrico e espontâneo. Ele não se mostrava porque não sabia.
Eram sempre os mesmos interesses, velhos e desgastados pelo tempo. Não o tempo dele mesmo – isso ele tinha de sobra – mas o que construía todo dia o novo capítulo do mundo. Não se muda o que já foi, mas se pode achar novos registros que contariam a verdade do que não se muda mais. Disso eu sei bem, mas não sei sobre o mundo. Sei sobre mim e sobre as pessoas que por aqui passam. Eu sei de cada sentimento, uma ciência tão inexata quanto ele. Ele não parece sentir, eu observava, não parecia viver. Ele guardava tudo dentro da caixa preta que existia no lugar de seu coração – os registros que podiam mudar tudo o que ele aparentava sentir por mim: nada. E recolhia cada memória do chão com sua mão esquerda.

- 2009

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